domingo, 4 de março de 2012

Lucinha Lins se destaca em novela interpretando personagem sofrida


Falante e animada, Lucinha Lins acredita que sempre é lembrada como uma espécie de fada. Também pudera. Loura, com olhos expressivamente azuis e uma pele rosada, a atriz quase sempre foi escalada para mulheres ricas, boazinhas ou humildes até demais. E sempre se enfureceu quando palpitavam que a atriz deveria sempre fazer personagens do bem. No entanto, esta carioca de quase 59 anos, que começou a carreira como cantora, percussionista e chegou a participar de festivais musicais no início dos anos 80, logo se destacou como atriz. Apesar de fazer teatro desde os 17 anos de idade, só estreou na tevê em 1979, no seriado "Plantão de Polícia". Logo depois, conseguiu manter o canto com a atuação. Mas só há pouco tempo decidiu assinar um contrato longo com uma emissora. Após anos optando por contrato por obra na Globo, Lucinha se destaca em sua terceira personagem consecutiva na Record. Na pele da sofrida Alzira, em "Vidas em Jogo", a atriz avalia as transformações da personagem que apanhava do marido e que deu a volta por cima na história de Christiane Fridman. "Mesmo com todos os medos que ela tem, a Alzira é muito corajosa. Acredito que agora ela vai entrar em outros conflitos com a morte da amiga Augusta (de Denise Del Vecchio). Ela não vai engolir essa perda em hipótese alguma", avalia.
A Alzira começou a trama com muito sofrimento, apanhando do marido e depois se reergueu. Como foi a construção dessa personagem e as transformações pelas quais ela passou ao longo da história?
LUCINHA LINS: Ela foi difícil de fazer até agora. Era uma mulher humilde, achatada, completamente desprovida de qualquer vaidade, de qualquer charme. Tive de fazer um trabalho de corpo grande para ela ficar arqueada, o que me deixava muito dolorida. Viver esse drama de amar o marido e ele bater nela é difícil e infelizmente ainda faz parte do dia a dia de milhares de mulheres. Assumir essa responsabilidade me honra. Foi um voto de confiança. Essa mulher, à medida que se sente mais protegida, cria coragem e muda o corpo, passa a se erguer. Começa a ficar menos fechada e volta a ter um mínimo de vaidade. A autoestima dela melhora. Ela se transforma em uma pessoa com mais força e coragem. Mas essas transformações são sutis.
O que o peso do sofrimento dos personagens acarreta na sua vida? Você leva o astral do personagem para casa?
LUCINHA: Normalmente não. Às vezes, choro quando entro na carro para ir embora. Reclamo: "Nossa, hoje foi tão difícil!". Mas não fica tanto tempo. Tem momentos difíceis, tanto no drama quanto na cena mais hilária e divertida. Isso acontece. Você pode ficar elétrica e excitada com essas cenas. É uma verdade daquele momento, uma emoção que você usa e joga fora. Se fosse guardar todas as emoções, eu iria parar no hospital. Não tem condição. Mas tem dias que é melhor ficar quieta quando acaba o estúdio para me recuperar.
Na sua carreira, quase sempre você é lembrada por personagens ricas e bem-sucedidas. Isso se deve ao seu "physique du rôle"?
LUCINHA: Talvez por ser loura de olhos azuis e ter cara de fada, né? A fada faz isso na cabeça das pessoas. Mas já fiz uma ruiva, uma vilã maravilhosa, uma psicopata incendiária. O engraçado é ouvir de um colega ou de alguém que te conhece: "Ah, Lucinha, sua cara não dá para fazer vilã". Aí você faz a vilã, arrasa e é indicada para o prêmio de atriz do ano. Depois, alguém fala: "Ah Lucinha, você de pobre, com essa cara de princesa? Não vai dar!". Aí faço a pobre e tal. Sou só uma atriz. Quero que todas as possibilidades de atuar possam existir na minha vida e tenho conseguido fazer isso. Já fiz até engraçadas, mas ninguém lembra.
Você sempre se recusou a assinar contratos longos com as emissoras, mas acabou fechando por três anos com a Record e acaba de renovar por mais cinco anos. O que a fez mudar de ideia?
LUCINHA:Eu nunca me prendia porque sempre tive a minha vida de palco. Quando vim para a Record, eles queriam imediatamente um contrato de dois anos. Fiquei com muito medo. Falei que eles nem me conheciam. Achei que isso não fosse mais acontecer na minha vida. Disse: "Vamos fazer primeiro uma novela? Vai que vocês me odeiam e se arrependam?". Mas a troca amorosa entre nós foi grande e eles disseram que não deixariam que eu fosse embora. Estou muito feliz.
Você foi musa do verão na década de 80 e posou para "Playboy" interpretando Marilyn Monroe. Como lida com o passar do tempo numa profissão regida pela vaidade?
LUCINHA: Beleza na minha casa é uma coisa comum. Meus pais e todas as gerações da minha família são muito bonitas. Na décima vez que ouvi "Nossa, como você é linda", achei um saco, um exagero. Sabia que isso poderia ser importante para alguém, mas não para mim. Na minha educação isso nunca foi importante. Mas fez bem para a minha profissão. Eu achava outras pessoas muito mais belas. Depois, olhava no espelho e falava: "Acho que todo mundo tem razão. Sou bonita sim". Isso não me fez mal nenhum, não me atrapalhou. Mas adoraria ter um cabelo crespo, igual ao da Gabriela, (personagem) do Jorge Amado. Sou preguiçosa. Não sou ligada à beleza, mas me cuido como qualquer pessoa. Envelhecer dá trabalho. A menopausa é um porre. Lidar com isso é um aprendizado. Faço 59 anos esse ano e estou morta de medo dos 60 anos.


fonte : http://www.diariodesuzano.com.br/noticia.php?caderno=d&id=17985

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